quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Significado do Número "666"


Introdução

Desde o I século A.D. tem havido muita especulação em torno do número "666" e de seu possível significado. Nas linhas a seguir, buscaremos fornecer algumas informações (nem sempre conhecidas dos leigos) sobre esse enigmático número.

I - Apocalipse 13.18 e suas Variantes Textuais

A fim de iniciarmos este breve estudo, forneço abaixo a minha tradução literal de Apocalipse 13.18, a qual está baseada no The Greek New Testament:

"Aqui a sabedoria está. O que tem entendimento calcule o número da besta, pois número de ser humano é, e o número dela é seiscentos e sessenta e seis".

Embora a variante "seiscentos e sessenta e seis" seja amplamente atestada em vários manuscritos gregos antigos, há, pelo menos, outros três registros variantes desse número que o apresentam como: 665, 646 e 616.[1] Apesar de tais variantes não serem comprovadas por um número grande de testemunhas, todavia, elas existem e, por isso, devem ser mencionadas aqui.[2]

II - O Número "666" e a Gematria[3]

Alguns textos representam o número 666 pelas letras gregas khi xi sigma. Isto, de acordo com alguns, é a prova conclusiva do fato de que a gematria[4] foi usada pelos escritores da Bíblia. Em resposta a essa afirmação devia ser assinalado que nem todos os textos contêm essa leitura. Alguns manuscritos têm o número escrito para fora (à margem) e alguns contêm a leitura variante "616", conforme mencionei acima. Mesmo se a leitura original fosse khi xi sigma não pode ser provado que o número per se continha valores místicos ou simbólicos. Somente alguém que já viu a multidão de tentativas de identificar o Anticristo na base deste número poderá ver a futilidade da exegese baseada na gematria.

Na Antigüidade, o imperador Nero (37-68 d.C.) foi considerado um provável candidato a ser o Anticristo porque o seu nome, quando escrito com caracteres hebraicos, tinha o valor numérico de "666".[5] A análise de seu nome é como segue:

Nun = 50
Rêsh = 200
Vav = 6
Nun = 50
Kaf = 100
Sámek = 60
Rêsh = 200

Total = 666

Irineu, um dos pais da igreja (135-202 d.C.), em Contra as Heresias, faz menção do fato de que o termo lateinos (referência à língua latina, a língua de Roma), em grego, era uma possível identificação do Anticristo porque ele tinha o valor numérico de "666", embora o próprio Irineu não pareça adotar essa idéia. Os valores das letras são os seguintes:

L (Lambda) = 30
A (Alfa) = 1
T (Tau) = 300
E (Épsilon) = 5
I (Iota) = 10
N (Nu) = 50
O (Ómicrom) = 70
S (Sigma) = 200

Total = 666

O comentário de Irineu sobre este número é interessante e instrutivo:

"É mais seguro e sem perigo esperar o cumprimento desta profecia do que se entregar a elucubrações e conjecturas sobre nomes, porque é possível encontrar quantidade enorme deles que combinam com este número [ 666], e o problema continuará o mesmo, pois, se há muitos nomes com este número, continuará a valer a pergunta de quem será o nome do que deve vir. Com efeito, não é por falta de nomes que tenham o número do nome do Anticristo que falamos assim, mas por temor de Deus e pelo zelo da verdade".[6]

O teólogo inglês, Henry Alford (1810-1871), nota que a palavra lateinos vem a ser a mais próxima para a solução do problema, embora ele também prefira manter a questão em aberto. Outros candidatos a terem seus nomes associados ao número "666" incluem o Papa Leão X (1475-1521), Martinho Lutero (1483-1546) e o Imperador Adriano (76-138 d.C.). Algumas explicações do número estão baseadas na forma do número 666 como ele aparece no texto. Neste sentido, a seguinte solução é dada:

"(...) o grande significado deste número é visto quando nós nos lembramos de que o símbolo secreto dos grandes mistérios pagãos antigos era SSS ou 666; e que hoje ele é a conexão entre eles e o seu reflorescimento no espiritismo e na teosofia, os quais objetivam a união de todas as religiões em uma.
A primeira e a última destas três letras são a abreviação da palavra Cristo. De modo que, quando nós temos o ksi, como uma serpente curvada, colocada entre eles, nós vemos um ajustamento do símbolo do Messias de Satanás - o Anticristo".[7]

III - A Ku Klux Klan e o Número "666"

A solução mais artificial encontrada para o significado deste número foi aquela de Frederick Dunning em The Christian Century (O Século Cristão). Seu argumento se desenvolve assim:

"Este enigma tem confundido as mentes dos estudantes da Bíblia por séculos, mas quando a Ku Klux Klan é usada como a chave, ele se torna tão simples quanto jogo de criança. Vamos começar com as letras mágicas K.K.K. com sua própria pontuação que as sinalizam. Webster conta-nos que 'a multiplicação é expressa muitas vezes por um ponto entre os fatores', assim K.K.K. = K x K x K. O valor numérico de K é onze, pois ela é a décima-primeira letra em ambos os alfabetos, Inglês e Hebraico [ e em português também]. Substituindo este valor por K nós temos K.K.K. = 11 x 11 x 11 = 1331. Este é o valor numérico da amostra de K.K.K. Mas há uma falta. O fundador e primeiro líder da K.K.K. foi expulso e deve ser restaurado antes de nós termos o perfeito símbolo da Ku Klux Klan. Adicionando este número perdido nós temos 1331 mais 1 = 1332. Este é o valor numérico perfeito da Ku Klux Klan. O número no verso 18, portanto, é o número da besta enquanto que no capítulo como um todo a Ku Klux Klan é representada por duas bestas, a saber, a besta com sete cabeças e dez chifres representando a dinastia de William Joseph, líder da Ku Klux Klan, e a besta que se parecia com um cordeiro, mas 'falava como um dragão' representando a dinastia de Hiram, líder da Ku Klux Klan. Portanto, para receber o número de uma besta nós devemos dividir o número completo por dois (1332 / 2 = 666). E este é o número pelo qual o profeta pode ser conhecido (...)".[8]

Além dessa explicação curiosa, mas equivocada, alguns outros candidatos também tiveram seus nomes relacionados ao temido número 666, dentre os quais, Adolf Hitler, Joseph Stalin, Fernando Collor (também, quem mandou confiscar o dinheiro de nossas contas poupança?!) e Ellen G. White.

IV - Bill Gates, Windows 95 e a Web

Não obstante os nomes citados acima, eu gostaria de destacar outros casos interessantes e também mais recentes de nomes relacionados ao "666". Por exemplo, o nome de Bill Gates, o fundador da MICROSOFT, e o nome WINDOWS 95 (o sistema operacional que é uma de suas criações), convertendo estes nomes para os valores encontrados na tabela ASCIL (American Standard Code for Information Interchange), que em português significa "Código Padrão Americano para o Intercâmbio de Informação":

B = 66
I = 73
L = 76
L = 76

G = 71
A = 65
T = 84
E = 69
S = 83

Total = 666

W = 87
I = 73
N = 78
D = 68
O = 79
W = 87
S = 83
9 = 57
5 = 54

Total = 666

E, para finalizar, gostaria de citar ainda a "Rede de Alcance Mundial", também conhecida como World Wide Web, ou WWW. Até mesmo ela não escapou de estar relacionada ao número 666.[9] Isso ocorre porque alguns acreditam que as siglas WWW, em hebraico, ficam assim: Waw, Waw, Waw (referência à "sexta" consoante hebraica, Vav, que alguns transliteram como W, e não como V), cujo valor numérico também é 666. Acredita-se que tal rede irá controlar o sistema monetário, sendo qualificada como moeda Universal (isso a identificaria com a besta). Veja novamente o equivalente numérico abaixo:

Vav = 6
Vav = 6
Vav = 6

Total = 666

Conclusão

Podemos concluir esse breve estudo dizendo que tais exegeses superficiais são características daqueles que cedem à numerologia mística. Nesses tipos de cálculos, números são relacionados às letras em alguns alfabetos escolhidos apropriadamente ou inventados.

Além disso, às letras do nome da vítima pretendida são dados seus números, e a estas eles são adicionados. Se a soma não resultar no desejado 666, o nome é apropriadamente modificado de forma errada e, se necessário, mais do que um alfabeto é empregado. Algumas vezes, quando o numerólogo é incapaz de unir um significado a um nome em sua língua nativa, o nome é soletrado em uma linguagem estrangeira. Deveria ser óbvio que tal metodologia exegética não tem lugar em um sistema saudável de hermenêutica. Se seguirmos tal "método" de interpretação, então qualquer forma de identificação com o Anticristo será possível de ser achada se a pessoa tentar bastante o suficiente.

Penso que se o Espírito Santo (quem inspirou João a escrever o Apocalipse) quisesse nos revelar o nome do Anticristo de forma mais clara, certamente o teria feito. Porém, se Ele entendeu que não era apropriado identificar o Anticristo em Ap 13.18, isso deve nos servir de alerta para que não nos tornemos especuladores improdutivos. Talvez isso explique o uso do misterioso número 666. Mas, afinal de contas, o que esse enigmático número significa? Bem, em algum momento no futuro creio que obteremos a resposta a essa pergunta. Por hora, acredito que melhor do que querer conhecer a identidade do Anticristo, é conhecer bem a identidade do próprio CRISTO.

Na paz dEle,

Autor: Carlos Augusto Vailatti
______________________
[1]
ALAND, Barbara, ALAND, Kurt, KARAVIDOPOULOS, Johannes, MARTINI, Carlo M. & METZGER, Bruce M. The Greek New Testament. 4ª ed., Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 2001, p.862 (cf. nota sobre o verso 18).
[2] As outras três ocorrências bíblicas do número 666 são encontradas em: 1 Rs 10.14; 2 Cr 9.13; Ed 2.13.
[3] Baseio-me, principalmente, em: DAVIS, John J.
Biblical Numerology: a basic study of the use of numbers in the Bible. Grand Rapids, Baker Book House, 2000, pp.143-147.
[4] Gematria é o nome dado à "Ciência de interpretar um texto sagrado de acordo com o valor numérico das letras das palavras. Há vários sistemas diferentes de gematria. Ela foi muito usada durante a Idade Média, e posteriormente pelos cabalistas e os seguidores do rabino e cabalista Shabbetai Zevi. Ela deriva do II século E.C., quando o Rabi Judá argumentou que Jr 9.10 (Ninguém passa por... e as bestas fugiram) significa que a cidade de Judá estava deserta por 52 anos. Isto é porque o valor numérico da palavra hebraica para bestas é 52" (COHN-SHERBOK, Dan.
A Concise Encyclopedia of Judaism. Oxford, Oneworld Publications, 1998, p.80).
[5] Nas palavras abaixo, o nome de Nero aparece em hebraico como: "Nero César".
[6] IRINEU.
Contra as Heresias. Livro V, 30,3. São Paulo, Paulus, 1995, p.599. (O número entre colchetes é meu). Quando Irineu fala sobre a necessidade de "esperar o cumprimento desta profecia", ele está se referindo ao cumprimento de Jr 8.16, texto este que, segundo ele, faz referência ao Anticristo. Além disso, Irineu também cita outras duas palavras, cujos valores numéricos correspondem a 666. São elas, EYANTHAS e TEITAN. Ele acredita que há uma probabilidade muito grande deste último nome (TEITAN) ser o nome do Anticristo. (Cf. Idem, ibidem, pp.599, 600).
[7] DAVIS, John J.
Biblical Numerology, p. 145.
[8] DUNNING, Frederick. "Ku Klux Klan Fulfills the Scripture".
The Christian Century. XLI, Nº 38, 1924, p.1207.
[9] Vários outros exemplos curiosos e, para dizer a verdade,
fantasiosos de nomes associados ao número 666 podem ser encontrados em: MALGO, Wim. O Controle Total 666. Porto Alegre, Obra Missionária Chamada da Meia-Noite, 1984; REIS, Aníbal Pereira dos. 666. Ourinhos, Edições Cristãs - Editora Ltda., 2003.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Pensamentos


Eis alguns de meus pensamentos prediletos, os quais, segundo creio, refletem de forma muito apropriada certas verdades da nossa vida cristã. Espero que você também goste deles:

"O importante não é o homem ter pisado na lua em julho de 1969, mas sim Deus ter pisado na terra há cerca de dois mil anos atrás" (Anônimo).

"O auto-esvaziamento prepara o transbordamento espiritual" (Richard Sibbes).

"A adoração é o reconhecimento da criatura acerca da grandeza do seu criador" (Herbert M. Carson).

"Jó era mais feliz na desgraça do que Adão no paraíso" (John Flavel).

"Há pessoas com as quais não concordamos, mas não precisamos afastá-las de nossa amizade" (Matthew Henry).

"O começo da ansiedade é o fim da fé; e o começo da verdadeira fé é o fim da ansiedade" (George Müller).

"A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada" (Edmund Burke).

"Se você quer fugir de Deus, o diabo lhe emprestará tanto as esporas como o cavalo" (Thomas Adams).

"A verdadeira água benta não é aquela que o papa esparge, mas a que é destilada dos olhos arrependidos" (Thomas Watson).

"Para ser ateu, é necessário uma medida de fé infinitamente maior do que para admitir todas as grandes verdades que o ateísmo nega" (Joseph Addison).

"Um problema que um ateu enfrenta é que ele não tem com quem conversar quando está só" (Anônimo).

"Um avivamento pode produzir barulho, mas não é nisso que ele consiste. O fator essencial é a obediência de todo o coração" (Ernest Baker).

"Avivamento não é descer a rua com um grande tambor; é subir ao Calvário em grande choro" (Roy Hession).

"A autoridade da Bíblia não provém da capacidade de seus autores humanos, mas do caráter de seu Autor divino" (John Blanchard).

"Atribuirei todas as aparentes incoerências da Bíblia à minha própria ignorância" (John Newton).

"Quando a poeira da batalha assentar-se, ouviremos todos os sessenta e seis livros declararem com o apóstolo Paulo: 'Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos" (W. H. Griffith Thomas).

"Reputação é o que os homens pensam que você é; caráter é o que Deus sabe que você é" (Anônimo).

"Não olhe a seu redor procurando com quem vai se casar; olhe para cima. Qualquer escolha diferente da de Deus significará um desastre" (Anônimo).

"Quando estiver procurando falhas para corrigir, olhe para o espelho" (Anônimo).

"Quando chegar ao céu, verei ali três coisas impressionantes: a primeira será encontrar muita gente que não esperava ver ali; a segunda será não encontrar muita gente que esperava ali encontrar; e a terceira e mais maravilhosa de todas será encontrar a mim mesmo ali" (John Newton).

Na paz de Cristo,

Carlos Augusto Vailatti

Richard Dawkins fala sobre: "Deus, um delírio".

O vídeo abaixo mostra Bill Maher entrevistando o ateu Richard Dawkins sobre o seu livro que se tornou bestseller mundial: "Deus, um delírio". Esse livro foi publicado em português em 2006 pela editora Companhia das Letras. Porém, em 2007, foi publicado também em português pela editora Mundo Cristão, o livro: "O Delírio de Dawkins: uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins", o qual foi escrito por Alister McGrath e sua esposa Joanna McGrath. Esse "livro-resposta" tem a intenção de rebater o livro de conteúdo fortemente ateísta de Dawkins. Como a expectativa dos ateus de que o "cientificismo" de nossa época sobrepujasse a religião se viu frustrada, então, os principais defensores do ateísmo se viram desesperados com essa situação e partiram para o ataque. Esse vídeo mostra como o cristianismo está sendo questionado até mesmo em algumas camadas da sociedade norte-americana. É importante tomarmos conhecimento dessas coisas, pois isso também tem o seu impacto aqui no Brasil.
"Os tolos pensam assim: 'Deus não existe' (...)" (Salmos 14.1a; 53.1a).

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Adoração a Anjos


"Não deixem que ninguém os condene, afirmando que é superior porque tem visões especiais e insistindo na falsa humildade e na adoração de anjos. Essa pessoa, sem motivo algum, está cheia de orgulho por causa do seu modo humano de pensar" (Colossenses 2.18 - Bíblia na Linguagem de Hoje).
Já faz algum tempo que tenho percebido o fato de que algumas igrejas, principalmente pentecostais, têm atribuído aos anjos um papel de grande destaque em seus cultos, enfatizando-os, aliás, além do necessário. Nessas igrejas fala-se muito, por exemplo, sobre "o anjo de fogo", "o anjo da cura", "o anjo da restauração", "o anjo da vitória", "o anjo do livramento", "o anjo do rétété" etc.

Em parte, a responsabilidade pela existência de toda essa "anjarada" se deve ao ambiente exageradamente místico e sobrenaturalista de muitas igrejas, o qual propicia o ambiente perfeito para a proliferação de tais excessos. Por outro lado, nosso hinário também tem fomentando, ainda mais, essa angelolatria. Hinos como "Jacó Segurou o Anjo" e "Anjos de Deus" (regravado pelo padre Marcelo), que tem o refrão: "Tem anjos voando neste lugar...", foram cantados repetidas vezes em nossos cultos, de forma quase hipnótica, o que contribuiu para toda essa "febre angelical" (lembrando que "febre" é um sintoma de que há algo errado no "corpo"). Não é preciso ter muita erudição bíblica e teológica para saber que essa ênfase angelical desmedida acaba se tornando, muitas vezes, idolatria (ainda que inconscientemente), ou para ser mais específico, "angelolatria".

Na carta de Paulo aos colossenses, o apóstolo lhes adverte quanto ao perigo da adoração a anjos. Tal advertência é justificada pelo fato de haver na cidade de Colossos uma religiosidade extremamente sincrética, a qual incluía em seu contexto vários elementos extraídos do paganismo e, em particular, a adoração a anjos. Portanto, em seu escrito, Paulo alerta aos crentes colossenses, orientando-os para que não se deixassem enganar pelos ensinos dos falsos mestres, com destaque especial às questões de angelologia.

Acredito que a Bíblia seja muito clara no que concerne ao fato de que os anjos são apenas nossos conservos no serviço divino, e não seres merecedores de adoração (Hb 1.13,14). Aliás, isso está muito evidente em Ap 22.8,9, onde João é repreendido pelo anjo ao querer prestar-lhe adoração.

Esse contexto de grande ênfase angelical me fez pensar na atenção redobrada que devemos ter quanto à disseminação de outros "novos tipos de anjos" (além dos acima mencionados) que podem querer invadir nossos arraiais evangélicos. A propósito, ao refletir a respeito dos nomes dos anjos, um detalhe me chamou a atenção: os dois principais anjos citados na Bíblia têm os seus nomes terminados com o sufixo -el, isto é, Gabriel e Miguel. A minha preocupação é que, baseados nisso, os angelólatras de plantão possam acrescentar outros novos anjos ao seu rol de seres celestiais. Cito aqui alguns "anjos" que poderiam compôr essa lista pentecostal:


O Anjo do SBT - AbravanEL

O Anjo das Telecomunicações - AnatEL

O Anjo das Rodovias - RodoanEL

O Anjo do Nordeste - SarapatEL

O Anjo das Crianças - CarrossEL

O Anjo do Natal - Papai NoEL

O Anjo dos Aparelhos Celulares - NextEL

O Anjo das Histórias em Quadrinhos - MarvEL

O Anjo (ou "Anja") dos Contos de Fadas - RapunzEL

O Anjo dos Microprocessadores - IntEL

O Anjo (ou "demônio") dos Smurfs - GargamEL

O Anjo dos Cabelos Rebeldes - GEL


Assim como os anjos mencionados: "da Cura", "da Vitória" e "do Livramento", esses "anjos" que acabei de citar também atuam em "áreas específicas"... Eu, hein?! Já pensou se essa angelomania pega?!

Abraços,

Autor: Carlos Augusto Vailatti

Batismo no Ônibus

Esse vídeo da cantora gospel Andréa Fontes fala sobre a história de um crente meio descrente que é batizado com o Espírito Santo (segundo a visão pentecostal) dentro de um ônibus. O vídeo é muito engraçado. Vale a pena dar uma conferida nele...

A Homossexualidade

Introdução

Em tempos de grande mutação de valores morais, como este em que vivemos, é necessário que certos valores sejam periodicamente reafirmados, tais como, os que dizem respeito à família, ao casamento e ao sexo, por exemplo. Essa forte onda de relativismo ético que enfrentamos, onde a sociedade questiona o sentido de tudo, tem imputado às pessoas a idéia da automonia do indivíduo como fonte dos próprios valores. E isso tem experimentado o seu reflexo principalmente na área sexual (afetando, portanto, a família e o casamento). Diante desse fato, creio que sejam oportunas algumas breves mas necessárias considerações sobre o homossexualismo. As linhas que seguem estão baseadas no livro: Os Fatos Sobre a Homossexualidade, de John Ankerberg e John Weldon, o qual foi publicado pela Obra Missionária Chamada da Meia-Noite, edição de 1997.

I. Os Homossexuais já Nascem Sendo Homossexuais?

Ativistas gays freqüentemente afirmam que nasceram homossexuais e que a sua orientação sexual é semelhante a algo como a cor dos olhos ou ser canhoto. Muitos homossexuais afirmam que suas preferências sexuais são inevitáveis e imutáveis devido aos fatores biológicos e, portanto, o estilo de vida homossexual seria algo que a sociedade deveria aceitar como normal.

Essa idéia de determinismo biológico tem sido utilizada de maneira crescente nos últimos anos. Seja como for, o argumento de que um homossexual já nasce assim tem a intenção de dizer que a sociedade não pode esperar que ele pare com seu comportamento ou se converta à heterossexualidade. Afinal de contas, não é justo esperar que uma pessoa mude o que ela é biologicamente. Isso quer dizer que a homossexualidade é um comportamento normal e até moral para o homossexual.

As implicações desse ponto de vista são que todos os aspectos da sociedade, incluindo a educação, a religião e a lei devem mudar, já que o homossexual não pode mudar. O determinismo biológico afeta não somente nossa atitude geral para com a homossexualidade mas também nossa abordagem de aconselhamento e tratamento - eles se tornam inúteis, já que a mudança é impossível.

Mas será mesmo verdade que os homens e mulheres gays são biologicamente predestinados a uma certa sexualidade? Pesquisas tentando mostrar causas-efeitos biológicos ou genéticos para a homossexualidade existem há quase um século. Mas, o fato é que, ao longo dos anos, nenhuma pesquisa jamais provou uma base orgânica para a homossexualidade. Em outras palavras, não existem evidências comprobatórias para isso.

Então, se a homossexualidade não tem base biológica, logo, só pode ser uma preferência adquirida. É por isso que especialistas no assunto como Wainwright Churchill, afirmam que "A sexualidade humana é inteiramente dependente de um aprendizado e condicionamento. O padrão de comportamento sexual do indivíduo é adquirido no contexto de suas experiências singulares, e não é, de maneira alguma, inato ou herdado". Além disso, outros autores ainda argumentam que "a experiência de um despertamento homossexual na infância e na adolescência e o envolvimento em atividades homossexuais genitais são fortes indicadores de futura homossexualidade adulta".

Uma vez que sabemos do fato de que homens e mulheres homossexuais não nascem homossexuais, então, é possível que a sua preferência sexual seja corrigida. Sendo assim, não se pode negar que homossexuais que querem mudar, geralmente mudam sua orientação sexual. A mudança pode ser mais difícil para alguns devido a fatores de motivação, vontade e circunstâncias. Mas na terapia em si, com motivação e ajuda adequadas, parece que, teoricamente, a mudança é possível a todos. É claro que abandonar um determinado hábito, que é praticado, às vezes, há muito tempo, é mais difícil do que adquirir um novo hábito. Todavia, isso é absolutamente possível.

II. Falsas Argumentações Usadas para Favorecer o Homossexualismo

1) A homossexualidade é uma prática muito comum para a sociedade poder condená-la.

Resp.: O fato de uma prática ser comum não a torna legítima. Ora, o estupro, o adultério, o roubo e outras práticas semelhantes também são comuns em nossa sociedade, mas nem por isso são moralmente corretas.

2) O homossexual tem o direito de fazer o que quiser com o seu corpo.

Resp.: Bem, não é porque o homossexual tem o direito de fazer o que quiser com o seu corpo (se é que qualquer um de nós tem, de fato, tal direito) que a sua escolha será necessariamente correta. Os direitos andam sempre acompanhados de deveres. Sendo assim, temos o direito de fazer aquilo que é correto, e não aquilo que quisermos. Você já pensou o que aconteceria se cada motorista resolvesse fazer o que quisesse com o seu carro durante um trânsito intenso, inclusive, desrespeitando os semáforos e as leis do trânsito?

3) A homossexualidade é um direito civil.

Resp.: Um erro moral nunca pode ser um direiro civil.

4) Críticos da homossexualidade são fanáticos ou homossexuais disfarçados ocultando seus próprios medos.

Resp.: Essa resposta é muito conveniente! Aqueles que idealizam tal argumento acreditam que podem legitimar seu ponto de vista desferindo simples ataques verbais infundados contra aqueles que não partilham de suas opiniões.

5) A homossexualidade é normal para os homossexuais. Portanto, é certo para os homossexuais.

Resp.: Esse mesmo argumento também pode ser usado por criminosos habituais.

6) Quando a sociedade condena a homossexualidade, só está condenando a si mesma, pois os homossexuais são membros produtivos da sociedade.

Resp.: Ainda que os homossexuais sejam membros produtivos da sociedade, tal fato não justifica a sua escolha sexual inapropriada.

7) A opinião cristã sobre a homossexualidade será ultrapassada pela pesquisa moderna.

Resp.: Muito pelo contrário, as pesquisas mais recentes têm demonstrado que o homossexualismo é, de fato, uma escolha, e não um comportamento que seja fruto do determinismo biológico.

8) O amor é a única coisa que importa.

Resp.: Quem é que define o amor e os seus limites? Pode um comportamento pecaminoso ser amoroso?

9) O próprio Jesus não condenou a homossexualidade.

Resp.: Não é bem assim. Jesus manteve a autoridade divina do Antigo Testamento em João 17.17. Confira também Mt 19.4,5.

10) O comportamento homossexual entre animais prova que a homossexualidade é uma condição biológica/evolucionária natural.

Resp.: Isso não é verdade. E mesmo que fosse, homens e mulheres não são meros animais. Essa comparação entre o comportamento sexual dos homens e dos animais é muito infeliz e inapropriada, pois não há como comparar seres racionais com irracionais. Enquanto que os animais agem baseados fundamentalmente em seus instintos, o mesmo não pode ser dito a respeito dos seres humanos.

11) Os cristãos devem, pelo menos, distinguir entre a atitude homossexual promíscua (pecaminosa) e a condição homossexual (não pecaminosa). Portanto, a homossexualidade monogâmica não é pecaminosa.

Resp.: Nada está mais longe da verdade. Não há como fazer distinção entre homossexualismo promíscuo e homossexualismo monogâmico. Quando Deus cria a humanidade, ele a subdivide entre macho e fêmea (Gn 1.27), criando, portanto, o matrimônio de natureza heterossexual, e não homossexual (Gn 2.18-25).


Conclusão

Para concluir esse texto, gostaria de deixar bem claro aos homossexuais que nós, cristãos-evangélicos: 1) não os odiamos e 2) não temos nenhum preconceito contra eles. Apenas não concordamos com as suas opções e práticas sexuais, valendo-se de nosso direito de liberdade de expressão como assegurado em nossa constituição que, no seu artigo 5º, inciso VIII, declara: "ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política (...)". Além do mais, como seguidores da Bíblia e de seus princípios, simplesmente não podemos permitir que a nossa consciência fique embotada e nossas ações estejam inertes diante de um comportamento que é evidentemente anormal.

Na paz de Cristo,

Carlos Augusto Vailatti

Obs: Se quiser saber mais sobre o homossexualismo sob o ponto de vista cristão, consulte ainda:

CARVALHO, Esly Regina S. de. (org.). Homossexualismo: abordagens cristãs. Brasília, EIRENE do Brasil, 1989;
DALLAS, Joe. A Operação do Erro: o movimento "gay cristão". São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998;
PAYNE, Leanne. A Cura do Homossexual. Rio de Janeiro, Edições Louva-a-Deus, 1994;
REGA, Lourenço Stelio. Libertação e Sexualidade, uma análise. São Paulo, Vida Nova, 1991;
SEVERO, Júlio. O Movimento Homossexual. Venda Nova, Editora Betânia, 1998.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Cuidado com os Eufemismos


Vivemos numa época cujos eufemismos têm predominado em nossa sociedade. A propósito, eufemismo é o nome dado ao ato de suavizar a expressão de uma idéia substituindo a palavra própria por outra mais polida, mais delicada, mais branda. Chamo aqui a atenção para tais eufemismos porque, muito sutilmente, eles vão se introduzinho aos poucos em nossos pensamentos com o propósito de anestesiá-los quanto à realidade que nos cerca. Portanto, se não tivermos um verdadeiro senso crítico, seremos tentados a olhar com mais simpatia para aqueles pecados que a linguagem eufemística muito habilmente tenta encobrir. Veja, abaixo, alguns exemplos do que eu estou querendo dizer:

"Ela não é uma prostituta; é uma Garota de Programa"

"Aquele sujeito não contou uma mentira; ele apenas faltou com a verdade"

"Aquilo não é pornografia; é apenas nudez artística"

"Isto não é promiscuidade; é somente amizade colorida"

"Ele não roubou, mas simplesmente subtraiu os bens alheios"

Temos que tomar muito cuidado com tais armadilhas verbais, pois elas podem nos fazer pensar que aquilo que a Bíblia chama de "pecado" não é algo tão grave assim, ou seja, é apenas um "deslize bobo sem maior importância".
Se alguém te der um frasco de veneno cheio de conteúdo mortífero, mas arrancar o seu rótulo e substituí-lo pelo rótulo da Coca-Cola na sua presença, pergunto: você teria a coragem de ingerir esse líqüido? Tenho certeza que não! Da mesma forma, não podemos aceitar a idéia de tratar o pecado como se ele não fosse, de fato, pecado. As pessoas podem lhe dar o nome que quiserem. Podem, inclusive, camuflá-lo, vestí-lo, maqueá-lo ou pintá-lo. Aliás, e por falar em pintar, as pessoas podem colorir o pecado com as mais variadas cores: azul, verde, vermelho, rosa ou amarelo. Mas, ainda assim, ele sempre continuará a ser "preto"! E você sabe por quê? Porque está na sua essência ser assim. O pecado jamais deixará de ser pecado, assim como Deus jamais deixará de ser Deus. Por isso, tome muito cuidado com as palavras e com aquilo que elas significam...

Abraços,

Autor: Carlos Augusto Vailatti

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Quem foi o Responsável pela Morte de Jesus?

Foi Judas Iscariotes?





Foi Pôncio Pilatos?





Foi o Diabo?





Foram os Sacerdotes Judeus (talvez Caifás)?






Ou foram os Soldados Romanos?





Sinto muito por desapontá-lo(a), mas nenhum deles foi o responsável pela morte de Jesus na cruz. Veja quem foi o verdadeiro responsável pela Sua morte:



Foi o Próprio Jesus!!!


"Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la.

Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai". (João 10.17,18).



Que Deus te abençoe,

Autor: Carlos Augusto Vailatti

A Fruta que Adão e Eva Comeram no Éden era a Maçã?

(Quadro de Michelângelo Sobre o Pecado Original e a Expulsão do Paraíso)

Embora a maçã tenha se tornado um símbolo da queda do homem no pecado, a história da tentação, contada em Gênesis 3, não faz qualquer referência a uma maçã. Menciona simplesmente o "fruto da árvore que está no meio do jardim" (Gn 3.3), possivelmente uma figueira, já que Adão e Eva se cobriram com folhas de figueira depois de comerem o fruto (Gn 3.7).

Generalizou-se , provavelmente, a crença de que o fruto referido era uma maçã através da mitologia grega ou celta, nas quais esse fruto pertence às deusas do amor e simboliza o desejo. Quando, no século II, Áquila de Pontus traduziu do hebraico para o grego os Cânticos de Salomão, alterou os versos "Criei-te debaixo da macieira; ali a minha mãe te gerou" (Ct 8.5) para "Criei-te debaixo da macieira; ali tu foste corrompido" - interpretando, evidentemente, o verso como uma referência à árvore proibida de Gênesis 3. Tempos mais tarde, Jerônimo (347-419/420 d.C.), ao traduzir o Antigo Testamento para o latim (parte da Vulgata), seguiu-lhe o exemplo, e desde então tem persistido a idéia de que o fruto proibido era uma maçã.

(Adaptado de: Seleções do Reader's Digest - "O Grande Livro do Maravilhoso e do Fantástico", 1977, p.327).

Carlos Augusto Vailatti

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Cristão e a Tatuagem


Há muita polêmica, sobretudo, no meio cristão/evangélico, a respeito da feitura de tatuagens em cristãos. Afinal de contas, essa prática é lícita ou é pecado? Bem, a fim de podermos responder a essa intrigante e honesta pergunta, temos que elaborar um estudo mais minucioso sobre o assunto. Sendo assim, vejamos o que segue:

I – Breve História da Tatuagem

a. No Mundo

O hábito de tatuar remonta à Antiguidade. Em alguns povos era sinal de nobreza; em outros, marcava a classe ou posição social, conforme o desenho; noutros ainda, era estigma de condenação.[1] Há provas arqueológicas de que as tatuagens já eram feitas (não nos mesmos moldes de hoje, é claro) no Egito entre 4000 e 2000 a.C. e também por nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, os quais se tatuavam em rituais relacionados à religião.[2] Já durante a Idade Média, a Igreja Católica baniu a tatuagem da Europa, a qual foi proibida pelo Papa no ano de 787, sob o argumento de que era “coisa do demônio”. Nesta época, qualquer cicatriz, má formação ou desenho na pele era visto com maus olhos.[3] No Japão, as tatuagens estiveram fortemente associadas com a organização criminosa Yakuza e nos EUA muitos prisioneiros e gangues de criminosos usam tatuagens distintivas para indicar fatos sobre seu comportamento criminal, sentenças prisionais e afiliação a uma determinada organização.[4] Na década de 70, jovens da Califórnia (EUA) começaram a pedir que se fizessem desenhos em seus braços e costas, os quais retratavam a cultura popular americana. Dentre os desenhos, destacavam-se as gravuras de Marilyn Monroe, James Dean e Jimmy Hendrix. Neste mesmo período, os surfistas passaram a aderir à moda, desenhando em seu corpo figuras de serpentes e dragões.[5] Nos anos 60 e70, a tatuagem é inserida no mundo da contracultura e da indústria pop. Nesta época, o movimento hippie e o Rock’n’Roll contribuíram muito para a popularização da tatuagem. Porém, ainda neste momento, a tatuagem era vista de forma marginalizada, pois estava associada a uma forma de protesto social.[6]

b. No Brasil

No que diz respeito ao Brasil, a tatuagem chega em nosso solo no século XIX, sendo trazida por marinheiros ingleses e americanos às cidades portuárias e se espalhando como moda entre marinheiros e prostitutas.[7] Quanto à tatuagem elétrica, esta chega ao Brasil em julho de 1959 com o dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen, o qual ficou conhecido como “Lucky Tattoo”.[8] A partir daí, a mensagem que a tatuagem passaria a transmitir às pessoas, estaria diretamente ligada aos movimentos existentes nas décadas posteriores. Em 1977, por exemplo, a tatuagem também é aderida pelo movimento punk, o qual surge na periferia de São Paulo.[9] Durante os anos 80 e 90 a tatuagem também continuou a ser enxergada com suspeitas, pois ainda estava associada a marginais, criminosos, delinqüentes e prostitutas, embora tal estigma diminuísse na década de 90. Já no final do século XX e início do século XXI, a tatuagem se transformou de bandido em mocinho. Hoje, por exemplo, a tatuagem já é vista sem maiores problemas e pode ser encontrada, inclusive, nos corpos de Mauricinhos e Patricinhas, atores e atrizes, celebridades e pessoas comuns do povo. Porém, além desse aspecto histórico, o que a Bíblia fala sobre tatuagens? Bem, isso é o que veremos a seguir.

II – A Tatuagem na Bíblia

Embora o termo “tatuagem” tenha surgido em tempos recentes, todavia, nós encontramos na Bíblia dois textos que parecem fazer referência à pratica da tatuagem em Lv 19.28 e Dt 14.1.

a. Levítico 19.28

O texto de Lv 19.28 é a passagem básica, em torno da qual toda a polêmica sobre “fazer tatuagens” se desenrola. Portanto, a fim de tentarmos elucidar a questão, a nossa análise terá essa passagem como ponto de partida para que, em seguida, passemos a analisar a sua passagem correlata de Dt 14.1 e, assim, partamos para as demais etapas de nosso estudo. Vejamos o que diz o texto:

“E incisão pelas almas (dos mortos) não fareis na vossa carne, nem imprimireis marca em vós: eu sou o Senhor” (Lv 19.28).[10]

Em primeiro lugar, deve ser dito que esse versículo está situado dentro do contexto mais amplo daquilo que é conhecido na teologia como “Código de Santidade” (referência às leis encontradas em Levítico, capítulos 17-26).[11] Tal código tem o objetivo de demonstrar a Israel as implicações da santidade divina para o sistema de culto e adoração que o povo do pacto deveria adotar como prática normativa. Isso significava, portanto, que a adesão a tais preceitos divinos por parte do povo constituía-se elemento indispensável para a sua relação com Javé. É dentro desse contexto que devemos situar a nossa passagem.

Em segundo lugar, a palavra que nos interessa destacar aqui é a palavra “marca”. Esta palavra é derivada do hebraico qa´aqa´, cujos significados básicos são: “incisão, tatuagem”.[12] Já na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento hebraico – datada do III século a.C.), a palavra “marca” é a tradução do grego stikta,[13] palavra esta derivada do verbo stizo, “fazer um sinal com um instrumento agudo ou candente; pintar, tatuar; fazer sinais com golpes”.[14]

Em terceiro lugar, a expressão “E incisão pelas almas (dos mortos) não fareis na vossa carne”,[15] deve ser enxergada no contexto da proibição contra as mutilações, uma vez que muitos povos pagãos lamentavam-se desse modo pelos seus mortos.[16] Isso é visto claramente em 1 Rs 18.28, no confronto entre Elias e os adoradores de Baal no monte Carmelo, onde vemos que estes últimos “se retalhavam com facas e com lancetas, conforme o seu costume, até derramarem sangue sobre si”. Tais atos eram absolutamente proibidos em Israel. Quanto à segunda parte do verso, “nem imprimireis marca em vós”, tal proibição pode ter algum vínculo com as práticas de idolatria entre várias nações antigas, pois se sabe que palavras sagradas, por exemplo, eram tatuadas na pele de adoradores pagãos.[17] Sendo assim, a prática de se fazer marcas na pele poderia estar relacionada à tatuagem ou à pintura do corpo como parte de uma espécie de ritual religioso.[18] Dessa forma, Deus não quer que Israel pratique esses hábitos pagãos e se comporte como as demais nações que vivem ao seu redor. Deus quer que Israel seja uma nação santa, isto é, uma nação separada para servi-lo e que tenha um estilo de vida diferente das demais.

b. Deuteronômio 14.1

A passagem de Dt 14.1 é praticamente paralela à de Lv 19.28, conforme podemos ver a seguir:

“Vocês são filhos do Eterno, o nosso Deus. Portanto, quando chorarem a morte de alguém, não se cortem nem rapem a cabeça, como os outros povos fazem”.[19]

Aqui, a frase cujo teor se repete em Lv 19.28 é “quando chorarem a morte de alguém, não se cortem”. Aqui, a expressão “não se cortem” traduz corretamente a raiz hebraica gadad, “cortar, invadir”.[20] O verso todo deixa claro que a idéia de “se cortar” está inserida dentro de um contexto fúnebre, onde a Israel é proibido novamente imitar as práticas pagãs vizinhas. Embora neste verso a idéia de fazer cortes no corpo não esteja necessariamente ligada ao conceito de fazer marcas, como uma forma de identificação com alguma divindade (como Lv 19.28 parece sugerir), em linhas gerais, tanto Lv 19.28 quanto Dt 14.1 tratam basicamente do mesmo assunto.

III – A Sacralidade do Corpo

Segundo a Bíblia, o nosso corpo é sagrado, pois ele é uma das criações de Deus (Gn 1.26-28). Ao criá-lo, Deus ficou satisfeito consigo mesmo e com a sua obra, pois “viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1.31).

Ao longo da história bíblica, Deus deixou claro que era Sua intenção que nós, seres humanos, fôssemos mordomos do corpo que Ele nos deu, isto é, era Seu desejo (e ainda o é) que cuidássemos bem desse corpo, pois Ele o havia escolhido para ser Sua morada (1 Co 3.16). Sendo assim, todo o tipo de comportamento que tenhamos, o qual, direta ou indiretamente, vier a causar algum tipo de dano ao nosso corpo, deve ser evitado por nós. É por isso que encontramos na Bíblia certas proibições, tais como: a da ingestão da gordura (Lv 3.16,17), pois Deus não queria que seus sacerdotes morressem com suas veias e artérias obstruídas, bem como, a proibição quanto a comer carne de certos animais (Lv 11; Dt 14). Encontramos ainda advertências contra a glutonaria (Gl 5.21), contra a ingestão desordenada de vinho (Ef 5.18) e contra a prostituição (1 Co 6.18), dentre outras coisas. E dentro desses breves exemplos, devemos situar a tatuagem. E você sabe por quê? Porque as tatuagens podem provocar alergias devido à penetração da tinta na pele, além de outras doenças transmitidas através de sangue contaminado (caso a agulha não esteja devidamente esterilizada). Todavia, alguém poderá tentar rebater esse argumento, dizendo: “mas, e se a agulha estiver esterilizada? Neste caso, ainda há algum problema em fazer uma tatuagem?”. E a resposta a essa pergunta é: “A questão não gira somente em torno da esterilização ou não da agulha. O fato é que a tatuagem fere a pele, causando, portanto, dor, àquele que a ela se submete. Sendo assim, tal procedimento não leva em consideração o respeito que se deve ao corpo, bem como os cuidados que devemos tomar quanto à preservação do mesmo”. Porém, quando um tratamento que se utiliza da dor (como uma cirurgia, por exemplo) é a única alternativa disponível à pessoa para que esta se veja curada de uma determinada doença, então, neste caso, para que a saúde do corpo (e do indivíduo como um todo, é claro) seja mantida, tal procedimento é absolutamente justificável e legítimo.

Conclusão

Em vista de tudo quanto dissemos até aqui, acredito que algum cristão ainda poderá perguntar: “E se eu tatuar o nome de Jesus no meu braço? Essa tatuagem não será uma forma de testemunhar ao mundo a minha fé?”. Bem, acredito sinceramente que tatuar o nome de Jesus (ou qualquer outra expressão bíblica) numa parte visível do meu corpo não é a melhor maneira que há de testemunhar a minha fé em Cristo. Penso antes que, levar uma vida pautada pela Palavra de Deus seja incomparavelmente melhor e mais eficaz do que seguir qualquer outra forma alternativa.

Na paz de Cristo,

Autor: Carlos Augusto Vailatti


[1] SILVA, Da Costa e. Dicionário Universal de Curiosidades. Vol.V. São Paulo, Com. e Imp. de Livros Cil S/A, 1964, p.1219.

[2] Extraído de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tatuagem.

[3] Idem.

[4] Extraído de: http://en.wikipedia.org/wiki/Tattoo.

[5] Extraído de: http://www.planetaterra.com.br/interna/0,,OI3062671-EI11908,00.html.

[6] LEITÃO, Débora Krischke. À Flor da Pele: Estudo Antropológico Sobre a Prática da Tatuagem em Grupos Urbanos. Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Sociais apresentado à UFRGS. Rio Grande do Sul, 2000, p.5. Extraído de: http://www.iluminuras.ufrgs.br/artigos/2004-10-flor-da-pele.pdf.

[7] Idem, Ibidem, p.7.

[8] Extraído de: http://www.portaltattoo.com/tatuagem/historia.

[9] LEITÃO, Débora Krischke. Op.Cit, p.8.

[10] Minha tradução da passagem está baseada em: ELLIGER, K. & RUDOLPH, W. Biblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.

[11] PATZIA, Arthur G. & PETROTTA, Anthony J. Dicionário de Estudos Bíblicos. São Paulo, Editora Vida, 2003, pp.35,36).

[12] HARRIS, R. Laird. (org.). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1998, p.1356.

[13] RAHLFS, Alfred. Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.

[14] PEREIRA, Isidro. Dicionário Grego-Português e Português-Grego. Lisboa, Edições da Livraria Apostolado da Imprensa, 1976, p.530.

[15] A ARC (Tradução da Bíblia de Almeida, Revista e Corrigida) traduz esta frase assim: “Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne”.

[16] CHAMPLIN, R.N. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol.1. São Paulo, Hagnos, 2001, p.554.

[17] Idem, Ibidem.

[18] WALTON, John H., MATTHEWS, Victor H. & CHAVALAS, Mark W. Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. Belo Horizonte, Editora Atos, 2003, p.136.

[19] BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje).

[20] HARRIS, R. Laird. (org.). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p.244.