terça-feira, 30 de abril de 2013

LÚCIFER, OS CRISTÃOS E... O QUE EU TENHO A VER COM ISSO?

por Carlos Augusto Vailatti

Até o século IV da nossa era, o nome latino "Lúcifer" (do latim, Luciferus, de "lux, lucis", "luz" + "fero", de "ferre", "trazer", ou seja, "aquele que traz a luz" / "portador de luz") gozava de boa reputação. Aliás, havia até um bispo cristão chamado "São Lúcifer", cujos seguidores eram conhecidos como "luciferianos"! Porém, após Orígenes (III Século d.C.) ter identificado Lúcifer com Satanás (em sua interpretação de Isaías 14:12), o nome "Lúcifer" acabou perdendo prestígio e passou a ser associado desde então com o mal.

Temo que o mesmo possa estar ocorrendo com o termo "cristão" nos dias atuais. Hoje, o nome "cristão" (do grego, christianós, "aquele que pertence a Cristo" / "aquele que segue a Cristo") não tem sido condizente com o comportamento de muitos que se dizem "seguidores de Cristo". Em nossos dias, o comportamento mercenário de muitos "pastores", a visão mercantilista de muitas "igrejas", a indústria da fé fomentada por muitos "líderes", a filosofia de vida utilitarista pregada muitos "crentes" e a adesão cega aos valores do mundo por parte de muitos "fiéis", dentre outros, têm descaracterizado a face da verdadeira Igreja de Cristo e, por conseguinte, têm ameaçado grandemente a continuidade da existência desse título (bem como, da própria Igreja!) do qual tanto nos orgulhamos, isto é, o título de "cristãos".

Na Europa e em várias outras partes do mundo, devido à baixíssima influência exercida pela Igreja em seu meio, já se fala há algum tempo de uma sociedade "pós-cristã", isto é, uma sociedade que já não sente mais o mesmo impacto do cristianismo como sentiu outrora, no passado. Esse cristianismo caricato e, portanto, absolutamente irrelevante, vivido por muitos, tem sido o verdadeiro responsável por ameaçar não apenas a sobrevivência do nome "cristão", mas também dos próprios portadores desse nome.

Hoje, o nome "Lúcifer", apesar de seu belíssimo significado e de sua questionada associação com Satanás, foi identificado de forma irreversível com o mal. E o responsável por essa identificação foi um cristão, Orígenes. Se continuarmos a viver esse tipo de "cristianismo descristianizado" ou, se preferir, esse "cristianismo sem Cristo", temo que em breve, nós, cristãos, também seremos responsáveis por estarmos classificados junto com os dinossauros como mais uma espécie que já está em extinção. O que está em jogo, é muito mais do que uma mera ameaça de uma possível mutação semântica. Na verdade, é a nossa própria sobrevivência que está em jogo.

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