por Carlos Augusto Vailatti
Até o
século IV da nossa era, o nome latino "Lúcifer" (do latim, Luciferus,
de "lux, lucis", "luz" + "fero", de
"ferre", "trazer", ou seja, "aquele que traz a
luz" / "portador de luz") gozava de boa reputação. Aliás, havia
até um bispo cristão chamado "São Lúcifer", cujos seguidores eram
conhecidos como "luciferianos"! Porém, após Orígenes (III Século d.C.) ter identificado Lúcifer com Satanás
(em sua interpretação de Isaías 14:12), o nome "Lúcifer" acabou
perdendo prestígio e passou a ser associado desde então com o mal.
Temo
que o mesmo possa estar ocorrendo com o termo "cristão" nos dias
atuais. Hoje, o nome "cristão" (do grego, christianós, "aquele
que pertence a Cristo" / "aquele que segue a Cristo") não tem
sido condizente com o comportamento de muitos que se dizem "seguidores de
Cristo". Em nossos dias, o comportamento mercenário de muitos
"pastores", a visão mercantilista de muitas "igrejas", a
indústria da fé fomentada por muitos "líderes", a filosofia de vida
utilitarista pregada muitos "crentes" e a adesão cega aos valores do
mundo por parte de muitos "fiéis", dentre outros, têm
descaracterizado a face da verdadeira Igreja de Cristo e, por conseguinte, têm
ameaçado grandemente a continuidade da existência desse título (bem como, da
própria Igreja!) do qual tanto nos orgulhamos, isto é, o título de
"cristãos".
Na
Europa e em várias outras partes do mundo, devido à baixíssima influência
exercida pela Igreja em seu meio, já se fala há algum tempo de uma sociedade
"pós-cristã", isto é, uma sociedade que já não sente mais o mesmo
impacto do cristianismo como sentiu outrora, no passado. Esse cristianismo
caricato e, portanto, absolutamente irrelevante, vivido por muitos, tem sido o
verdadeiro responsável por ameaçar não apenas a sobrevivência do nome
"cristão", mas também dos próprios portadores desse nome.
Hoje,
o nome "Lúcifer", apesar de seu belíssimo significado e de sua
questionada associação com Satanás, foi identificado de forma irreversível com
o mal. E o responsável por essa identificação foi um cristão, Orígenes. Se
continuarmos a viver esse tipo de "cristianismo descristianizado" ou,
se preferir, esse "cristianismo sem Cristo", temo que em breve, nós,
cristãos, também seremos responsáveis por estarmos classificados junto com os
dinossauros como mais uma espécie que já está em extinção. O que está em jogo,
é muito mais do que uma mera ameaça de uma possível mutação semântica. Na verdade,
é a nossa própria sobrevivência que está em jogo.
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